segunda-feira, 18 de novembro de 2013

elogios

sempre fiquei meio desconfortável quando me chamavam de bonita. as únicas pessoas que me disseram que eu era bonita e não me incomodaram foram meus avós e minha irmã. isso apenas porque eles conseguem sempre dizer isso quando eu menos concordo, e a sensação da contradição nesse caso é quentinha e confortável.

as outras pessoas dizem isso também. eu geralmente concordo, não sou cega. mas a maneira que elas dizem e as situações que desencadeiam esses elogios geralmente fazem alusão a uma de duas coisas: eu ter me arrumado OU um privilégio genético casual, que vai deixar de existir em alguns anos.

no primeiro caso, me incomoda porque tem gente que só diz que a gente ~está~ bonita se estiver "arrumada". não fazem por mal, na maioria das vezes nem sabem se você se montou, embora intuam, e possivelmente não sabem o trabalho que deu. se não é por maquiagem é por estar usando uma roupa mais femininazinha, tipo um vestido, ou por ter ajeitado o cabelo. sempre que aconteceu algo feito por mãos humanas com a minha aparência aparecem elogios. é bom saber que funciona quando quero me deixar mais bonita, mas fico pensando se essa sequência de ação-reação não reforça nossa cultura pautada pela aparência física (para mulheres, né, homens não sofrem nem metade da pressão).

no segundo caso, os elogios normalmente vêm de pessoas que têm alguma intimidade comigo, geralmente em um relacionamento amoroso. podem ocorrer a qualquer momento, mas quase sempre quando estou à vontade. do nada vem um "linda" ou um "gostosa" (sendo que eu não malho, até isso é acaso), carregadíssimo de amor pulsante. e aí eu sinto medo. eu temo pelo futuro porque eu sei que é a minha personalidade e o meu jeito de fazer carinho que mantém essas pessoas romanticamente interessadas em mim, mas o que aproxima elas é a minha cara e o meu corpo. e eles um dia (dia esse cada vez mais próximo) vão murchar e cair. e quando eu for velha e acontecer de novo a sequência de começo meio e fim do amor, quando chegar no começo de novo eu não tenho certeza se as coisas que eu digo e faço vão parecer tão bonitinhas assim vindas de uma velha pelancuda.

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