sábado, 18 de maio de 2013

interrupção

é ilegal deixar de ter um filho que você não pode ter.
a gente ainda faz, mas daquele jeito ou superfaturado ou precaríssimo.

hoje é sábado. na quinta fez uma semana que eu estava atrasada. segunda vou fazer os exames.

queria parar de pensar nisso ao mesmo tempo em que queria conseguir pensar nisso direito.

a decisão tem que ser só minha. mas eu não queria, queria muito ter um companheiro que tivesse uma opinião que eu achasse válida discutir (o pai da possível bola de sangue chamou de "vida", mas disse que "aceita" o que eu quiser). e que conseguisse falar comigo de maneira que eu sentisse que estou falando com a pessoa que participou do processo junto comigo, e não com alguém que deixou cair isso em mim sem nem pensar no que estava fazendo pra eu ter que decidir o que fazer. tipo, teu material genético está alojado em mim, eu não coloquei ele aqui sozinha...

eu sei que o corpo é meu e que a decisão final é minha. mas a responsabilidade não é só minha, e o bullying que eu vou sofrer vai ser só meu. ninguem vai dizer "bah, aquele casal rateou", é sempre "mas ela não tava tomando nada?".

dificil pensar em todos os aspectos em que eu me sinto desconfortável por causa disso. meu corpo tem vontade própria, faz o que quer e dependendo do dia até me controla, e eu vou ter que contar isso pro meu pai, que jura que acidentes são fabricados, não só pra dar a informação, mas pra pedir ajuda. vou ter que dizer que fui burra o suficiente para deixar com que meus hormônios me enganassem e que agora preciso de uma pequena fortuninha para resolver isso, sob pena de ter um remelentinho bizarro aqui na próxima visita deles e para sempre.

pro pai disso não tenho como pedir, ele não tem como ajudar. nem sei se ajudaria. vou sim falar no assunto, vai que da uma luz e ele resolve querer diminuir a minha carga, não to rica o suficiente pra ser orgulhosa, ainda mais com isso, que nem é só culpa minha...

aí eu tenho que dar uns milzão pra fazer isso direito. trezentinho pra fazer em casa, com risco de ruptura e tudo.

e a vergonha.

e o nenê, claro. é muito muito triste pensar que podia virar um nenê se eu deixasse. o que me segura é justamente pensar num nenê que eu mesma ia patear tanto, e que ia ser um fudido, pq eu sou uma fudida e o pai dele é pior ainda. tem gente que não precisava nascer só pra sofrer. tem eu também, esse nenê imaginario me roubaria pra ele, eu não quero ser de ninguem assim... e ter que estar ligada ao pai dele pra sempre do sempre não sei se eu quero. "não sei se eu quero" me da até vergonha. mas é. ele é o máximo, mas eu queria conversar sem escolher tanto as palavras.

enfim, se fosse outro cara talvez eu pensasse. só não quero um filho dele. sei la.