Não consigo nem contar essa história. Tentei descrever pra
ver se meu coração parava de doer e não consigo explicar como tudo chegou a
esse ponto. Eu gostei de ti, e tu de mim, quando nos vimos rápido na festa de
fim de ano. Começamos a conversar como velhos amigos logo no primeiro dia, duas
segundas atrás. Eu senti de cara um pouco de medo pelos meus votos de
não-namoro, porque tu era legal e bonito demais e era meu colega, parecia tudo
fadado ao sucesso. Daí, na noite que a gente saiu, eu fiquei com outro cara,
por inércia, por medo, por álcool. Tu não conseguiu fingir e não falar sobre,
mas também não me culpou abertamente. Só repetia que estava triste, e a
conversa ficou explícita, muitos gosto-de-tis dos dois lados. Eu tentei em vão te
chamar pra sair de novo, não conseguia mais ser eu mesma pela internet,
precisava usar meu corpo pra conversar depois de tudo tão dito. Tu se negou por
dias. Teve a segunda do livro, que me encheu de esperanças, mas tu reclamou que
eu estava nervosa demais e que achava que era melhor nem fazer nada. Quando eu
disse que não precisávamos nos ver e que eu entendia que não devia ter pressa,
tu começou a falar de sexo. Não sei se tu tinha real noção do que isso faz comigo,
mas fiquei precisando mais ainda te ver e te encostar. Depois de ter me feito
gozar descrevendo gostos e preferências muito compatíveis, tu continuou dizendo
que não sabia se queria algo comigo, já não era mais nem se a gente ia se ver
ou não. Desde então eu não consegui mais conversar amenidades e não perdi uma
oportunidade de tirar com a tua cara, até o ponto de tu não gostar mais de mim.
Isso começou há duas segundas. Eu me odeio por ter ficado assim desde o início,
sem motivo racional além daquelas conversas empolgantes e do teu tamanho de
urso e teus olhos verdes e sorriso de criança, e me odeio por ter ficado com o
outro cara porque isso foi idiota e insensível. E te odeio por não querer me
ver mesmo sendo visível que às vezes tu quer. Um abraço decente, com tempo, que
não durasse só o trajeto do elevador, resolveria tudo, mesmo que fosse pra
sermos bons amigos. Eu sei no meu coração que sim. Precisava dar um jeito de te
convencer. Eu vou infartar a qualquer momento se continuar desse jeito, e acho
que morro de dor se terminar assim.
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