A notificação vermelhinha foi como outra qualquer, à
primeira vista. Um moço, que ela conheceu um dia antes, em umas dessas
discussões ideológicas nas quais as pessoas falam muito e ninguém convence ninguém
de nada. Tinham concordado, embora não completamente, e ele tinha um aspecto
simpático e um ‘quê’ porteño. Claro que na internet a pessoa tem que ser muito
chinela pra não parecer interessante, mas ainda assim, pelo menos ele não era
muito chinelo.
Maiúsculas, acentos, pontuação no lugar. Até demais... mas
ótima velocidade de digitação e excelente compreensão da vadiagem intrínseca ao
ser humano. A conversa fluiu bem de mais, até que ela não teve mais como disfarçar
que sabia o que estava acontecendo. Elogios geralmente entregam os caras, e esse
era particularmente doce.
O problema é que a única alternativa realmente honesta seria
não ter aceitado o convite. Até o aceite pode ser considerado o que o querido
leitor quiser, e ela sabia que era exatamente isso, justamente porque tinha
gostado daquela fotinho cercada de palavras (beleza nunca foi um must – já coolness...).
A banda dele era bem mais ou menos, mas quem se importa? Pelo menos com as
influências ela não tinha nenhum problema, pelo contrário.
Decidiu pela honestidade relativa e abriu o jogo na deixa
seguinte. Disse que a ineficácia do movimento não era por conta dele, mas do
namorado. Não tinha certeza se era verdade, mas como o namorado era de verdade
as verdades decorrentes disso ficavam confortáveis para ambos.
Pecou no excesso de simpatia, claro, não sabemos se por
vaidade ou pena, ou os dois. Independentemente do motivo, continuaram listando
preferências e fazendo piadas, até que as indiretas sobre lugares a ir ficaram
frequentes de mais.
Pensou no namorado, primeiro a quem queria mesmo ser fiel a
vida inteira, e decidiu por uma honestidade pior, pedindo abertamente o fim da
conversa e apontando o flerte explicitamente. Como qualquer moço esperto faria,
ele aproveitou para insistir, e por pouco não narrou os beijos que lhe daria se
pudesse.
Terminaram – ela terminou – a conversa abruptamente.
Continuar seria explicitamente errado, depois de tantas intimidades.
Minutos depois ele ainda enviou mais um link, de um conto
sensível que ele mesmo escreveu. Ela gostou, mas não quis responder para não
alimentar a interação.
Passou o resto do expediente escutando as influências da
banda dele e, de vez em quando, relendo trechos da conversa.
No mundo ideal, nunca mais se falaram, e ela viveu feliz
para sempre com o namorado ao qual prometeu honestidade, com a consciência suficientemente
tranquila.
No mundo real, geral torce pra ela não postar nenhuma dessas
músicas.
FIM.
Moral da história: gostar do game é uma merda.